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A autoridade das Escrituras

  • Foto do escritor: Jairo Lopes
    Jairo Lopes
  • 20 de dez. de 2024
  • 5 min de leitura
(Segunda parte de uma série de artigos)

A inspiração das Escrituras


A doutrina da inspiração é um conceito teológico. As duas passagens mais importantes que estabelecem a doutrina da Inspiração das Escrituras são 2Timoteo 3.16 e 2Pedro 1.21. O que é ensinado por Paulo na segunda carta a Timóteo é que o Antigo Testamento é exalado por Deus (theopneustos)[14]. Indicando assim que o objeto de inspiração é o próprio texto escrito, ou seja, restringe-se somente aos autógrafos[15]. E é toda a Escritura. O que expressa uma inspiração plenária, palavra por palavra, cuja origem é o próprio Deus.



Caminho em meio ao jardim com grama e árvores
Fotos de Beca

Quanto à citação de Pedro é nos dito que homens de Deus foram movidos (fero), ou levados[16], pelo Espírito Santo. Embora, os autores tenham sido usados pelo Espírito Santo para produzir as Escrituras, eles não são objeto de inspiração, mas somente instrumentos. Portanto, usando as palavras do Dr. Geisler, “o produto é inspirado, os produtores não[17]”.


Uma coisa importante acerca do cânon bíblico, é o facto de termos um texto que diz que existem escritos exalados por Deus. Por isso, é logicamente inferido que existe alguns escritos que são inspirados, e outros não. Podemos até ir mais longe em dizer que o Canon é um “artefacto da Inspiração” [18]. E este é o conceito de canonização, a saber, que existe um grupo específico de textos exalados por Deus, e outros que não o são. Logo, os referidos por Paulo em 2Tim. 3.16, são a autoridade suprema e suficiente[19] da igreja[20].


A inerrância das Escrituras


Consequentemente, se temos um texto inspirado pelo próprio Deus, logo temos um texto sem erros. Porque Deus não pode errar. A isto chamamos de inerrância e infalibilidade. Porém, o que é a inerrância Bíblica? O professor Hermisten Maia explica nestes termos:


“Ensinamos a inerrância bíblica porque esta é uma doutrina bíblica (Jo 10.35; 17.17; 2Co 6.7; Cl 1.5; 2Tm 2.15; Tg 1.18) e também porque é uma decorrência lógica do facto de que o Deus que “expirou” as Escrituras (2Tim. 3.16) não mente, não muda, não falha (Tt 1.2; Tg 1.17) (vd. CW, I.6). (...). Tomemos aqui a definição apresentada por Paul Feinberg: "A inerrância é o ponto de vista de que, quando todos os fatos forem conhecidos, demonstrarão que a Bíblia, nos seus autógrafos originais e corretamente interpretada, é inteiramente verdadeira, e nunca falsa, em tudo quanto afirma, quer no tocante à doutrina e à ética, quer no tocante às ciências sociais, físicas ou biológicas."”[21]



árvores altas
Fotos de Beca

Esta afirmação acerca da veracidade das Escrituras tem de ser confessada e crida pela igreja. Aliás, como pode a Igreja ser coluna e baluarte da verdade (1Tim. 3.16) se não tiver uma revelação inerrante. Se a doutrina da inerrância não é o que denomina ser, então até isto que Paulo escreveu a Timóteo deve ser questionado. Contudo, a Igreja de Cristo tem a verdade porque Deus, que não pode mentir, deu-nos um livro sem erros. Quanto a isto certo comentador nota:



tronco de árvore grande com árvores coloridas ao fundo
Fotos de Beca

“Assim como os alicerces e as colunas do templo de Diana foram um testemunho do erro da falsa religião pagã, assim a igreja deve ser um testemunho da verdade de Deus. Esta é a sua missão no mundo; sua razão de existir aqui. [22]”


Esta doutrina é muito importante, porquanto muitos acreditavam, ou acreditam, que as Escrituras falam muito acerca de sua própria autoridade, mas nada de inerrância. Infelizmente, a doutrina da inerrância tem sido fortemente atacada ao largo da história. E muitas vezes os ataques mais ferozes e subtis, vêm daqueles que se formaram em instituições teológicas conservadoras, e em certo momento abraçaram uma inerrância ilimitada. Vejamos um exemplo.


Um dos nomes que prejudicou a doutrina da inerrância foi o falecido teólogo Clark Pinnock, que embora tenha sido uma figura importante na defesa da perspetiva ortodoxa de inerrância, abandonou a sua posição enquanto esteve no Canadá (McMaster Divinity College) num ambiente teológico mais liberal (influenciado por mentes como: Stephen Davis, Stanley Grenz, Karl Barth). Consequentemente, Pinnock começou a articular um modelo “neoevangélico”, de uma inspiração dinâmica, influenciado pelo teísmo aberto.


árvore canadense com folhas vermelhas
Fotos de Beca

Clark acreditava que a visão ortodoxa de inerrância (como a confissão de Chicago; e a inerrância defendida por Warfield e A. A. Hodge) era demasiado estrita. Ademais, alegava “que a visão da “perfeita ausência de erros de autógrafos inexistentes era uma abstração que morreu uma morte por mil qualificações. Mais importante, falhou em provar a autoridade dinâmica do texto presente””[23]. Portanto, Pinnock abandonou uma inerrância ilimitada, ou factual, por uma limitada. Por isso, na sua perspetiva, inerrância, deveria ser definida como “uma metáfora ou a determinação de confiar completamente na palavra de Deus”. Na sua visão as Escrituras só são relativamente livres de erros em assuntos relacionados ao evangelho, piedade e a vontade de Deus. Fora disto a Bíblia pode conter erros. O próprio afirmou: “Colocamos nossa confiança, em última análise, em Jesus Cristo, não na Bíblia (...) O que as Escrituras fazem é apresentar um testemunho sólido e confiável [mas não inerrante] de quem ele é e do que Deus fez por nós”.

árvores no outono com folhas alaranjadas
Fotos de Beca

Logo, é obvio que para Pinnock a inspiração plenária das Escrituras é uma ideia inaceitável. Na sua opinião, Deus não escolheu cada palavra que foi usada no texto Bíblico, mas apenas trabalhou nos autores de forma a darem expressão à mensagem inspirada que Deus quis comunicar. Contudo, como cristãos ortodoxos, devemos confessar e comprometer-nos com uma inspiração plenária, que consequentemente conduz a uma inerrância ilimitada, que pode ser logicamente percebida através duma hermenêutica Bíblica que à priori pressupõe a sua absoluta infalibilidade e a impecabilidade da comunicação divina a homens limitados. Sem isto, não temos bases para assumir uma autoridade absoluta.[24]


Portanto, se a Escritura não pode errar, e é verdadeira em tudo o que afirma, conclui-se que é autoridade absoluta em todos os assuntos da vida. As Escrituras são a suprema autoridade em todos os assuntos de fé e prática.


Notas:


[14] Sobre inspiração e canonização do Novo Testamento, ver: Norman L. Geisler e William E. Nix, Introdução Bíblica: Como a Bíblia Chegou até nós, Trad., Oswaldo Ramos, Ed., Fabiabi Medeiros (Brasil, São Paulo: Editora Vida, 1997); James R. White, Scripture Alone: Exploring the Bible’s Accuracy, Authority, and Authenticity, (Grand Rapids, Michigan: Bethany House Publishers, 2024); Michael J. Kruger, Canon Revisited: Establishing the Origins and Authority of the New Testament Books, (Wheaton, Illinois: Crossway, 2012).


[15] Norman L. Geisler e William E. Nix, Introdução Bíblica: Como a Bíblia Chegou até nós, Trad., Oswaldo Ramos, Ed., Fabiabi Medeiros (Brasil, São Paulo: Editora Vida, 1997), 9-37.


[16] W. E. Vine, Vine diccionario expositivo de palabras del Antiguo y del Nuevo Testamento exhaustivo, (Editorial Caribe, 1999).


[17] Norman L. Geisler e William E. Nix, Introdução Bíblica: Como a Bíblia Chegou até nós, Trad., Oswaldo Ramos, Ed., Fabiabi Medeiros (Brasil, São Paulo: Editora Vida, 1997), 9-37.


[18] Frase cunhada a Dr. James White.


[19] O teólogo James R. White no seu livro “Scripture Alone” denota que a expressão “útil” funde-se com a ideia de suficiência. Não significa que Timóteo precisava de material didático, mas sim de encorajamento através do que Deus providenciou para cumprir o ministério, que lhe foi confiado, visto que em breve Paulo estaria de partida. (Cf., James R. White, Scripture Alone: Exploring the Bible’s Accuracy, Authority, and Authenticity, (Grand Rapids, Michigan: Bethany House Publishers, 2024), 51)


[20] Ver James I. Packer, Teologı́aı́ concisa: Una guı́aı́ a las creencias del Cristianismo histórico, Trad., Andrés Carrodeguas (Miami, Fl: Editorial Unilit, 1998), 28.


[21] Hermisten Maia Pereira da Costa, A inspiração e inerrância das Escrituras (São Paulo, Brasil: Editora Cultura Cristã, 1998), 103.


[22] MacArthur, J. (2012). 1 y 2 Tesalonicenses, 1 y 2 Timoteo, Tito (Vol. 3, p. 152). Portavoz.


[23] Norman L. Geisler and William C. Roach, Defending Inerrancy: Affirming the Accuracy of Scripture for a New Generation. (Grand Rapids: Baker Books, 2011), 70.


[24] Esta analise foi resumida a partir do livro do Norman L. Geisler and William C. Roach, Defending Inerrancy: Affirming the Accuracy of Scripture for a New Generation. (Grand Rapids: Baker Books, 2011), 67-95.

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