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Lei e Graça - Uma chamada ao equilíbrio

  • Foto do escritor: Tiago Bugalho
    Tiago Bugalho
  • 30 de out. de 2024
  • 4 min de leitura

O mundo evangélico necessita de uma maior e melhor compreensão das verdades divinas acerca da graça e da lei. Há muita confusão sobre estas verdades, ao ponto de muitos evangélicos as verem como antagónicas.


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Fotos de Beca

Quantas vezes já ouvimos alguém afirmar o seguinte:


  • “O Antigo Testamento é apenas história; o Novo Testamento é que é útil para os cristãos.”

  • “Na antiga aliança, os homens estavam debaixo da lei; agora, na nova aliança, os homens estão debaixo da graça.”

  • “Vivemos pela graça e não pela lei.”


Por muito espirituais que essas e outras afirmações semelhantes possam soar, estão profundamente erradas e representam terrivelmente mal o caráter e os propósitos de Deus.


É certo que a graça e a lei são distintas, mas jamais separáveis. Como alguém disse, e muito bem, não devemos dizer “Lei e Graça”, mas sim “Lei é graça”. É igualmente errado um cristão verdadeiro pensar que vive apenas debaixo da graça.


Como bons herdeiros da reforma protestante, acreditamos no “Sola Gratia” (Somente a graça), ou seja, que somente pela graça de Deus o homem pode ser salvo; a salvação não é pelos nossos méritos e nem pode ser conquistada por nenhuma obra nossa. No entanto, também devemos considerar que a prova da nossa eleição e salvação é a obediência à lei de Deus, confirmada pela realização de boas obras. Não somos salvos pelas boas obras, mas fomos salvos para realizar boas obras através do cumprimento da lei de Deus.


A Lei é Graça


No meio do povo de Deus, encontramos aqueles que enfatizam tanto a graça que se esquecem do propósito de Deus ao dar a sua lei ao Seu povo. Por outro lado, alguns agarram-se tanto à lei que se tornam escravos dela.


Devemos pensar com equilíbrio sobre a ligação entre a graça e a lei. Primeiramente, a lei não foi anulada com Jesus Cristo; pelo contrário, foi cumprida por Ele, conforme vemos em Mateus 5:17: "Não pensem que vim abolir a Lei ou os Profetas; não vim abolir, mas cumprir." O verbo traduzido por “cumprir” tem no original o sentido literal de “encher”, ou seja, Jesus veio para dar o ensino correto sobre a lei e, assim, cumpri-la. Nós jamais poderíamos cumprir a Lei; Ele cumpriua por nós. Pelas obras da lei, não podíamos ser salvos; é pelas obras de Cristo que podemos ser salvos.

árvore entre folhas
Fotos de Beca

É muito importante também definir sobre qual lei estamos a falar. Vários reformadores optaram por dividir a lei em três categorias:[1]


  1. A lei cerimonial: Dirigia os judeus para a fé no seu Messias; esta lei cerimonial está agora cumprida em Cristo.

  2. A lei judicial: Não é obrigatória para o governo cristão, mas serve como modelo para o uso civil, encorajando o bom governo e a paz.

  3. A lei moral: Esta é permanente e ainda aplicável a todos os cristãos.


João Calvino considerava esta uma divisão tradicional e utilizava-a.


Apesar de podermos retirar bons princípios para as nossas vidas das leis civil e cerimonial, a lei que devemos aplicar diretamente na nova aliança é a lei moral, que todos nós, que já estamos em Cristo, devemos seguir como padrão para o nosso viver e para saber como agradá-Lo em todas as coisas (João 14:21). Portanto, a lei que permanece vigente em todas as épocas é a lei moral de Deus, desde Adão até aos dias de hoje, pois não pode ser abolida, visto que é uma expressão do caráter de Deus.


Onde Encontramos a Lei Moral?


Nos Dez Mandamentos (ver Êxodo 20:1-17), que são o resumo de toda a lei. E toda a lei pode ser resumida em apenas dois mandamentos:


“E Jesus disse-lhe: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas.” Mateus 22:37-40


Infelizmente, muitos cristãos olham para a lei de uma forma negativa, como se fosse o lado carrancudo de Deus para nós. Nada podia estar mais errado; esse pensamento é incorreto. A lei sempre teve um propósito gracioso para conosco: ela revela a nossa verdadeira condição diante de Deus, mas também revela a nossa necessidade do Salvador Jesus Cristo (Gálatas 3:24). A lei exige perfeição, mas é também a única que nos orienta claramente a viver de acordo com o padrão aceitável por Deus. Por tudo isto, a lei deve ser apreciada pelo cristão como uma expressão graciosa da vontade de Deus.


Por fim, olhemos para a graça como necessária e real para nós por causa da lei. Ambas são inseparáveis e manifestam-se na sua plenitude na cruz de Jesus Cristo. O significado mais básico de graça é "favor imerecido"; o significado mais profundo encontra-se na manifestação da graça especial e particular para todos os crentes na sua eleição, regeneração, justificação, santificação e glorificação. A graça opera especialmente na vida do crente desde o momento da sua salvação e acompanha-o durante toda a sua vida, pois, na verdade, somos dependentes da graça em tudo.


Resumindo, vemos que a lei exige justiça dos homens, enquanto a graça concede justiça aos homens através de Jesus e nos ajuda a permanecer no caminho da justiça no cumprimento da lei de Deus.


[1] Retirado do livro “Lei e Graça” de Mauro Meister, Pg. 42 e 43


árvores coloridas no outono
Fotos de Beca

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